Mara Gabrilli, a maconha e o ogro: governo que ela apoia não se sensibiliza com sua causa. Por Moisés Mendes

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A senadora tucana Mara Gabrilli é uma das vozes fortes em defesa da liberação do plantio da maconha para fins medicinais. Mara é tetraplégica desde 1994, quando sofreu uma acidente de carro.

Ela consome óleo de canabidiol (CBD) importado, o único calmante para seu sofrimento. Produtos convencionais não conseguem tirá-la da cama. Sem o socorro do CBD, ela tem convulsões, sente falta de ar e sabe que em algum momento pode morrer.

Pois ontem vi a senadora num embate desigual com o ministro Osmar Terra numa entrevista à GloboNews. A moça dizia que as pessoas em condições semelhantes às dela precisam da ajuda da maconha.

Terra, que vê ameaça de tráfico, vícios e desvios em tudo, não se sensibilizou. Porque Terra é um reaça esquemático, um moralista que faz média com pregadores religiosos. Ocupa uma área que deveria ser ocupada por uma mente aberta, humanista.

Terra é ministro da Cidadania. Deveria ser ministro do atraso e do ultraconservadorismo a serviço do obscurantismo.

Só que o embate entre ela e a senadora tem um problema. Mara e Terra estão mais próximos da extrema direita do que dos setores que lutam pela liberação do uso medicinal da maconha. E esses setores estão na esquerda.

A senadora comove por seu drama pessoal e pelo envolvimento na luta das pessoas com deficiência. Ela sabe do que fala. Mas está alinhada com quem luta contra tudo que ela defende. Até com Bolsonaro. Na entrevista ao lado de Terra ela se referiu ao “nosso governo”.

O governo de Terra e de Bolsonaro destrói tudo que Mara defende. E Mara contradiz tudo o que prega comportando-se como uma política da direita do PSDB, apesar do poder de atrair apoios às suas falas e ações pelos que sofrem por alguma deficiência física.

Mara discursou e votou pelo golpe contra Dilma com a fúria dos bolsonaristas. Apoiou a prisão de Lula. É natural, porque é tucana.

Mas também votou pela PEC do teto dos gastos públicos, que corta verbas de áreas decisivas para a sua empreitada pela saúde.

Mara apoiou bravamente a reforma trabalhista. Apoia a reforma previdenciária. Apoia tudo que é da direita. E ausentou-se do Senado e assim se omitiu quando a casa deveria autorizar (e não autorizou) as investigações contra Michel Temer e seu Quadrilhão.

Por isso Mara convive com a turma que não tem nenhum compromisso com o que ela defende. Osmar Terra é seu amigo. José Serra é seu mentor.

Os amigos da senadora defendem o cigarro nacional exaltado por Sergio Moro, mas não admitem o uso de substâncias da maconha para aplacar o sofrimento de crianças que têm dezenas de convulsões por dia.

Mara está na trincheira errada. A senadora não precisa ter ideias de esquerda. Mas a base das suas posições políticas conspira contra a essência da sua própria luta. Ninguém da direita irá apoiá-la. Ninguém.

Tudo o que ela defende como fundamental para a sua existência como pessoa e como ativista política não fecha com as ideias de seus parceiros no Congresso e no que ela chama de “nosso governo”.

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