Muitos bancos dos Estados Unidos fogem de pessoas como Hope Wiseman, diretor de um dispensário que vende maconha para uso medicinal. Contudo, um projeto de lei para abrir os bancos à indústria da cannabis está provocando otimismo conforme avança no Congresso americano.
Wiseman, que opera um dispensário chamado Mary and Main, em Capitol Heights, local vizinho a Washington, atende a pacientes de enxaqueca, doenças crônicas e depressão.
Ele se considera sortudo por já ter uma conta em um banco, mas lamenta estar à mercê do destino, porque a qualquer momento ela pode ser encerrada.
O uso medicinal de maconha é legal em 33 estados e em Washington DC. Cerca de dez estados também legalizaram a cannabis com fins recreativos.
Mas para as leis federais, a maconha ainda é classificada como uma droga dura, como a cocaína, o LSD e a heroína.
E muitos bancos temem ser acusados de lavagem de dinheiro se gerirem contas de pessoas ligadas à indústria da cannabis.
O banco de Wiseman é um dos poucos a aceitar este tipo de cliente.
“Cobram tarifas muito caras porque o negócio é muito particular e estamos sujeitos à sua vontade”, explicou Wiseman, que abriu seu negócio no ano passado.
As transações são feitas majoritariamente em dinheiro. Quando o valor é depositado, demora vários dias a cair na conta, o que atrapalha o fluxo de pagamento a fornecedores e funcionários.
O cartão de crédito de Wiseman serve apenas para transferências online de criptomoedas. O banco não lhe dá um cartão porque ele é considerado um cliente criminoso. Se houve a menor suspeita de ilegalidade em uma transação, eles podem fechar sua conta.
– Pequeno avanço –
A cautela exagerada dos bancos também afeta organizações que se envolvem regularmente com a indústria da cannabis.
Jenn Michelle Pedini, diretora de NORML, uma das principais organizações que defendem legalizar a maconha, disse que teve problemas com o governo quando sua empresa assessorou um vendedor de cannabis para instalar uma empresa.
O negócio da maconha está crescendo. Gera receita de cerca de 10 bilhões de dólares por ano, que pode chegar a 56 bilhões em 2025, segundo os grupos pró-legalização.
Mas dos 11.000 bancos e outros credores nos Estados Unidos, apenas 700 trabalham com clientes no setor de maconha, segundo o Departamento do Tesouro.
Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto para proteger a indústria profissional da maconha e várias empresas contra possíveis crimes federais. O texto deve ser aprovado pelo Senado.
Os defensores do projeto dizem que ele reduz o risco de assaltos e roubos em um setor em que o dinheiro físico reina.
No entanto, os críticos afirmam que isso pode simplificar o acesso dos cartéis de drogas ao sistema financeiro.
Tanner Daniel, vice-presidente da Associação Americana de Banqueiros (ABA), disse que a aprovação do projeto é uma “etapa necessária”.
– Receita –
“A ABA não toma partido pela legalização. De seus membros, 99% afirmam que são necessários mais esclarecimentos a nível federal e estadual”, disse Daniel em um fórum em Washington.
Ele acrescentou que 75% dos integrantes da associação fecharam contas de clientes potencialmente vinculados à industria da maconha.
No Senado, os republicanos se preocupam com este tema.
O Congresso “não está pronto para debater o mérito da legalização”, disse Michael Correia, do grupo lobista National Cannabis Industry Association.
“Será (debatida) estado, após estado, após estado, antes de chegar ao nível federal”, disse Correia.
É isso que Thiru Vignarajah, ex-vice-procurador-geral de Maryland e candidato a prefeito de Baltimore, quer fazer: legalizar a maconha na cidade e esperar que o estado o faça eventualmente. Vignarajah propõe avaliar as vendas de maconha com uma criptomoeda apoiada e regulamentada pela cidade e investir muito dinheiro em educação.
A legalização também poderia ajudar a combater o crime em Baltimore, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos, disse ele.
“A taxa de homicídios está entre as mais altas do país. A guerra entre gangues por drogas é a causa da grande maioria desses casos”, disse Vignarajah à AFP.
Ele admitiu, no entanto, que a maconha é apenas parte do problema das drogas e legalizá-la não é uma panaceia.
Fonte: IstoÉ