Brasileiros mudam de vida e de país para investir em cannabis legalizada

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Em busca de uma virada em suas vidas, brasileiros estão se mudando para países onde o plantio, o consumo e o comércio de cannabis são legalizados. São casos como o do engenheiro Ricardo Tolomelli, que saiu de Volta Redonda, Rio de Janeiro, para San Antonio, Uruguai, há três anos e meio. O plano começou quando Ricardo soube do debate em torno da legalização da cannabis no país vizinho, em 2013. Desde então, conta que sua vida deu uma virada completa. Abandonou o emprego como desenvolvedor de software e se dedicou aos estudos sobre o plantio da cannabis e toda a relação histórica que diferentes culturas criaram em torno da planta.

— A ideia é fornecer estudos para que as pessoas que queiram plantar para fins recreativos ou medicinais tenham informações didáticas e precisas.

Hoje Tolomelli administra um site com videoaulas, também dá workshops presenciais e dá consultoria em um clube de cultivo, onde ensina a melhorar geneticamente as plantas. Ele conta que há um aumento no interesse de brasileiros que querem aprender mais sobre o assunto.

— A pessoa percebe que está refém de um mercado ilegal e violento e que tudo isso se soluciona na hora em que assume a responsabilidade de cultivar a própria planta. Ao longo desses últimos três anos eu busquei equilibrar minha relação com a cannabis e isso se refletiu em uma saúde melhor, por exemplo, algo que meus amigos notaram na última vez que fui a São Paulo.

De volta para casa

Já o executivo José Bacellar, que mora no Canadá há dez anos, percebeu a movimentação no mercado no ano passado e resolveu mudar de ares. Ele se mudou para o norte para acompanhar sua mulher, que é médica e que teve um papel fundamental na sua decisão.

— Sempre trabalhei com a indústria farmacêutica. Minha esposa foi uma ótima ajuda para quebrar meu dilema interno. Fui buscá-la para entender se era um medicamento, mesmo. Ela me explicou que aqui no Canadá são seis indicações clínicas que o ministério da saúde permite, seja para fumar ou usar o óleo.

Bacellar se reuniu com outros executivos e médicos brasileiros para montar a Verdemed, empresa de cannabis medicinal. Desde então, conta, passa metade do tempo no ar: entre Chile, Colômbia, Uruguai, México, Brasil e Estados Unidos. Antes de abrir o negócio, ele ainda passou três meses em Londres, em um estágio acompanhando laboratórios de biotecnologia aplicada à cannabis medicinal. Sua empresa cuida desde o plantio até a entrega dos medicamentos aos pacientes.

— O que mudou mais para mim foi essa parte essencialmente agrícola e comercial, conhecer desde o plantio, que era uma coisa que no mercado laboratorial não tinha tanto contato.

O empresário explica que a companhia foi aberta no Canadá porque Toronto é a capital financeira da indústria da Cannabis, com mais de 50 empresas públicas listadas. Uma vez estabelecida no Canadá, um dos objetivos da empresa é retornar à América Latina. A primeira rodada de captação de investidores, de US$ 6 milhões, atraiu o interesse de brasileiros e pode ser fechada ainda em 2018.

Investindo à distância

Gabriel Casonato é editor da publicadora Empiricus, especializada em avaliações econômicas. No segundo semestre de 2016, as notícias de IPOs no exterior chamaram sua atenção.

— Comecei a estudar por conta própria. Vi que o negócio começou a andar e que as expectativas começaram a se materializar. Ainda é um tema visto como tabu no Brasil, mas lançamos uma série para brasileiros que queiram investir no exterior. Hoje temos uma carteira para quem quer investir em maconha.

Casonato explica que o movimento começou a ganhar corpo este ano com a legalização na Califórnia, em janeiro, e se solidificou com o Canadá, em junho. Hoje, conta o economista, há 300 empresas nas bolsas americanas e canadense com atuação relacionada à maconha, seja recreativa ou medicinal.

Para monitorar os investimentos nessas empresas em seis bolsas norte-americanas, foi criado o “Marijuana Index”. Cada empresa recebe uma nota de negociação diária com base em uma média ponderada de seu volume, capitalização de mercado e preço da ação. Para ser incluída nos índices, as companhias devem atingir uma média de 20 pontos na negociação trimestral, o que equivale a uma capitalização de mercado mínima de US $ 80 milhões.

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