Advogado diz que conservadorismo do Brasil atrasa avanços medicinais com uso de substância encontrada na maconha

Total
1
Shares

O advogado Leonardo Bernazzolli, atuante na área de Direito Penal em Mato Grosso, é um dos que prevê que a liberação do plantio da maconha (Cannabis Sativa) no Brasil para uso terapêutico está próximo. A pauta já está em discussão em Brasília. A comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa o Projeto de Lei 399/15, sobre medicamentos formulados com Cannabis Sativa, realizou nesta semana sua primeira audiência pública.

Bernazolli diz que o conservadorismo no Brasil, com relação à questão das drogas, provoca um atraso nesta questão, mas diz que vários estudos científicos sérios comprovam a eficácia do uso da substância para o tratamento de algumas doenças e que a tendência é que a permissão do plantio da maconha, para estes fins, deve vir em breve.

Hoje, no Brasil, a comercialização, o plantio e o transporte de maconha são considerados crimes. No entanto, já se sabe que a planta também pode ser utilizada para fins medicinais e por isso algumas exceções têm sido permitidas.

“O Conselho Federal de Medicina aprovou recentemente uma portaria, uma resolução, que proíbe a prescrição da Cannabis para fins terapêuticos. Pouco tempo depois, houve a superação dessa nota. Ela autoriza para fins terapêuticos em dosagens pequenas e a importação do remédio. Teoricamente, o CFM não autorizou a comercialização e plantio no Brasil. Ele autorizou a importação de um remédio a base no canabidiol, em percentuais definidos pelo Conselho, buscando o tratamento de pessoas com epilepsia e doenças do gênero, mediante prescrição médica”, explicou o advogado Leonardo Bernazzolli.

Apesar desta autorização por parte do CFM, o advogado conta que ainda há um grande receio por parte dos médicos em receitar remédios que contém o canabidiol. Apesar dos avançados estudos com a substância nos Estados Unidos, e mesmo no Brasil, o advogado afirma que o pensamento conservador do nosso país com relação à maconha provoca alguns atrasos. A Câmara dos Deputados, no entanto, voltou a discutir esta pauta nesta semana.

“O PL que está em discussão hoje nas audiências públicas justamente serve para legitimar, tanto o plantio para o estudo técnico, a comercialização deste estudo, a fabricação para a formulação da medicação para o tratamento desses casos, tendo em vista que realmente é uma tendência moderna no mundo todo”, disse Bernazzolli.

Na atual legislação, um paciente que precise do medicamento, e já obteve a prescrição médica, busca o Ministério da Saúde para viabilizar a compra do remédio, que tem que ser importado.

“É um medicamento que chega muito caro no Brasil e, infelizmente, às vezes por uma situação financeira, acaba por impedir o acesso a determinadas pessoas. O PL é que vem para regulamentar e futuramente garantir a produção no Brasil, obviamente, a um custo menor facilitando a aquisição por uma parcela maior da população que precisa do medicamento”, afirmou o advogado.

O Projeto de Lei 399/15, se aprovado, deverá autorizar o plantio da maconha no Brasil, mas apenas para fins medicinais e por setores específicos. Para fins recreativos o plantio continuará sendo crime.

“Obviamente, os grandes laboratórios cadastrados na Anvisa vão estar legitimados a fazer o cultivo dentro dos parâmetros que serão definidos talvez pela Lei. O que se terá é a possibilidade do alargamento da produção e comercialização no Brasil, mas ainda de modo tímido e bastante controlado”.

Enquanto em alguns países o uso medicinal, e até mesmo recreativo, já é liberado, no Brasil há sempre muita polêmica relacionada ao tema. O advogado avalia que o conservadorismo do Brasil é o responsável por este atraso, na área medicinal.

“O Brasil, assim como os outros países da América Latina, possui um grande problema ligado à criminalidade com o tráfico de drogas. O crime organizado seria, em tese, financiado pelo tráfico de drogas, então por isso há uma cultura muito rígida no sentido da comercialização da maconha no Brasil. Culturalmente, discutir a legalização dessas drogas tem sim uma resistência legislativa, mas também cultural, a própria sociedade repudia”.

Leonardo reforça que o que o PL discute é o plantio para fins medicinais, e não uso recreativo. Ele relembra que existem brasileiros que necessitam do medicamento, mas hoje encontram uma dificuldade enorme em adquiri-lo.

“Quando você começa discutir, de certa forma, a aplicação de uma exceção, obviamente, há várias discussões de alargamento ainda maior, de liberação, da liberação irrestrita do plantio, uso e comercialização da maconha em si, mas não é o que hoje se pretende no primeiro momento. […] há estudos comprovados da aplicação terapêutica que alivia doenças. Então você não flexibilizar de modo seguro e impedir que pessoas tenham acesso a um tratamento para aliviar suas dores, para melhorar sua saúde e ter uma condição de vida mais digna, eu acredito que é um retrocesso do Estado frente a um avanço tecnológico”.

Bernazzolli, porém, avalia que a forma como a sociedade encara a maconha vem evoluindo. Por causa disso, ele acredita que o próximo passo, a liberação para fins medicinais, não está distante.

“Vai ser uma evolução cultural do Brasil. Antes usar maconha era crime, depois o uso passou ser apenas um ilícito civil – a pessoa que usa maconha é considerada um doente, a luz da lei do tráfico de drogas -, e agora a gente vai ter uma evolução no sentido da planta em si, da maconha, da planta Cannabis Sativa, para o estrato dela, o extrato do canabidiol para fins terapêuticos”.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

You May Also Like

Cannabis medicinal no Brasil: veja o que muda com as novas regras da Anvisa

A regulamentação de produtos à base de maconha no Brasil foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta terça-feira (3). Com a decisão, produtos feitos com cannabis para…
View Post

Brasil está atrás de outros países na liberação da cannabis

Milhões de pessoas ao redor do planeta sofrem com doenças que podem ser tratadas ou aliviadas com o uso do canabidiol, uma das substâncias que compõem a cannabis. Para tratar…
View Post

O ministro da Educação não sabe o que diz

Mais uma vez, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, investiu contra as instituições de ensino federais tentando envolver, na semana passada, os seus alunos em prática criminosa. Se a intenção…
View Post

STJ reafirma que importação de sementes de maconha não é contrabando

A importação de pequena quantidade de sementes de maconha não pode ser considerada contrabando. Com esse entendimento, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça negou recurso do Ministério Público…
View Post