NO MERCADO DA MACONHA, AS LEIS QUE IMPORTAM SÃO AS DA OFERTA E DA DEMANDA

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Está na imprensa toda semana. Empresas farmacêuticas especializadas em remédios de maconha aguardam a Anvisa regulamentar a produção . Uns pacientes vão ganhando e outros vão perdendo na Justiça o direito de cultivar Cannabis para atender a suas necessidades médicas . No Congresso, tramitam sem muitas chances projetos de lei para regulamentar o plantio de maconha para outros fins.

Enquanto isso, longe das manchetes, abaixo da superfície da lei, maconha segue crescendo às toneladas no Brasil, sob as sombras da ilegalidade. Estou na estrada agora, em busca dessa produção. No momento, viajo pelo Nordeste, sob o sol intenso daqui — o mesmo sol que garante que a Cannabis cresça com muito mais vigor e qualidade do que ao sul do país. Tenho encontrado produtores por aqui, que, assim como aqueles que querem trabalhar dentro da lei e esperam que ela mude, também se preparam para as mudanças que estão acontecendo no mercado.

Passei os últimos dias na casa de um deles, ao lado de uma estufa que deixa a luz do sol entrar, para fazer uma centena de plantas florescerem. “Já está legalizado”, ele disse para mim. “Não aqui no Brasil, mas onde importa: na economia mundial. Maconha é uma commodity, que logo será comercializada na Bolsa de Nova York.” E daí que a lei local ainda não mudou? Importam são as leis da oferta e da demanda. “E eu nunca vi maconha verde de alta qualidade encalhar no mercado. As pessoas gostam dessa planta.”

O produtor me garante que tem zero medo de ser preso. “A questão não é mais se vai ou não legalizar. É onde você vai estar quando legalizar. Eu quero estar no topo, com o melhor produto do mercado.” Ele quer vender seu produto cobrando quase dez vezes mais do que o preço do tradicional importado paraguaio, de baixa qualidade.

Pergunto se não é uma estratégia muito arriscada. “Arriscado é comprar bitcoin, que pode perder todo o valor se a economia entrar em colapso”, ele responde. “Essa planta não perde valor. É a commodity com maior valor de troca que existe.” Valor esse que não desaparece nem se a polícia aparecer. “Se acontecer, vou usar a exposição midiática para fazer branding”, ironiza. “Ou vou ganhar um sócio policial.”

Enquanto isso, do lado de fora da casa, na estufa, as plantas cresciam, sem nem desconfiar que eram commodities.

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