Por Dr Antônio Pedro Pierro Neto
Na semana passada, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Psiquiatria (ABP), elaboraram um decálogo chamado de “decálogo da maconha“. Para quem não sabe, decálogo significa um conjunto de normas e princípios, assim como feito na passagem bíblica dos 10 mandamentos. O problema é que este decálogo da maconha não traz normas, nem princípios, muito menos vem de uma inspiração divina.
Realmente não existe maconha medicinal, existe maconha para uso medicinal. Contudo, dizer que a Cannabis sativa e Cannabis indica não são medicamentos é simplesmente omitir um conhecimento de quase 5 mil anos de utilização e negar toda a bibliografia de cientistas conhecidos e respeitados mundialmente.
Entre eles, o Prof. Dr. Raphael Mechoulam, da Universidade Hebraica de Jerusalém, pioneiro do estudo científico da planta e fundamental para a elucidação de um dos mais importantes e complexos sistemas celulares, o chamado de sistema endocanabinoide. Ele é responsável pelos efeitos medicinais da cannabis em diversas patologias.
No Brasil, o Prof. Dr. Elisaldo Carlini iniciou seus estudos há mais de 40 anos, e seus trabalhos são citados por autores do mundo todo. Aqui temos também o Prof. Dr. José Crippa, que ainda produz uma quantidade considerável de artigos científicos sobre o tema, além de muitos, muitos outros mestres e doutores no assunto.
No segundo item, CFM e ABP afirmam que o CBD (canabidiol) está sendo estudado como provável efeito terapêutico. Quem lê essa afirmação é levado a acreditar que se trata de uma pesquisa recente. Enganam-se! A primeira pesquisa utilizando canabidiol para tratamento de epilepsia refratária no Brasil é de 1980, realizada por três universidades importantes, a Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, Santa Casa de São Paulo e a Universidade Hebraica de Jerusalém; Ou seja, no próximo o estudo irá completar quatro décadas!
Os outros itens desse “decálogo” tratam do uso adulto da cannabis misturado com uso para fins medicinais, uma confusão.
Buscamos um diálogo científico e honesto, sem preconceitos ou folclore ideológico. Alguns países, como Canadá, Estados Unidos, Austrália, Itália, entre outros, investem em pesquisas para procurar a melhor forma de utilização da planta a fim de proporcionar uma qualidade de vida melhor para os seus cidadãos.
Há milhões de pacientes que lidam com sintomas de doenças como câncer, esclerose múltipla, epilepsia, autismo, dor crônica, Síndrome de Dravet, Mal de Alzheimer, entre tantas outras doenças, para as quais os medicamentos à base de maconha já se provaram úteis.
Infelizmente, a planta não tem propriedade de cura, mas seus componentes têm mostrado efetivos para uma melhor qualidade de vida dos pacientes. O número de médicos prescritores de 2015 a 2018 aumentou 180%, enquanto o de solicitações de pacientes através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no mesmo período, aumentou em 300%.
Fonte: Sechat