Não foi derramada tinta legislativa suficiente sobre a crescente indústria da maconha, segundo Benjamin Witte.
“Estou pedindo por regulamentação. Eu quero ser regulamentado”, disse Witte durante uma entrevista ao Yahoo Finanças. “Eu acho que o maior risco para a Recess é justamente a falta de regulamentação que existe hoje.”
Witte é CEO e fundador da Recess, uma marca de água com gás feita com infusão de canabidiol (CBD), uma das substâncias extraídas da cannabis, a planta da maconha.
A empresa, com sede em Nova York, tem apenas um ano de funcionamento, mas já levantou US$ 6 milhões em financiamento inicial de investidores ainda não divulgados.
Suas latas coloridas de “suco de maconha” estão disponíveis em milhares de lojas de varejo na costa leste dos Estados Unidos e na Califórnia. Ele já acumula um estoque de 5.000 pedidos e fez 40 vezes o número de vendas planejadas em seu primeiro mês, embora outros detalhes financeiros não tenham sido divulgados.
Mas o rápido crescimento da Recess no mercado de bens de consumo embalados não ficou isento de obstáculos, com muitos deles surgindo como resultado de questões regulatórias. Recentemente, a Recess teve que mudar sua fábrica do Vale Hudson em Nova York para fora do estado e “demitir muita gente lá”, disse Witte.
“É um exemplo da falta de clareza regulatória, dificultando muito o setor e nos forçando a ser muito rápidos”, disse Witte. Porém, mais – e não menos – supervisão permitirá que o setor de CBD cresça, acredita Witte.
“O CBD, agora, é uma espécie de tendência. Eu acho que tem uma dinâmica semelhante ao que aconteceu com as criptomoedas, onde houve algo como uma corrida do ouro e todo mundo está tentando iniciar a 2.000ª companhia de CBD, ou há uma nova bebida sendo lançada todos os dias”, disse ele.
“E muitas pessoas que, francamente, lançam essas empresas, não reconhecem o quão desafiador é criar produtos de alta qualidade que sejam compatíveis. E, portanto, usam atalhos. Então, quando falo sobre a regulamentação, acho que é para garantir que os produtos que estão lá fora sejam de alta qualidade.”
O CBD usado pela Recess não deixa seus consumidores intoxicados e é derivado da cannabis, que contém 0,3% ou menos de tetra-hidrocanabinol (THC) e foi removido da classificação de drogas controladas da Agência de Repressão a Drogas dos EUA como parte da legalização da maconha em dezembro de 2018.
A agência reguladora de alimentos e medicamentos do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos ainda considera ilegal o CBD adicionado aos produtos alimentares, em âmbito federal. E embora inúmeras empresas e entusiastas tenham apontado o CBD como uma solução para tudo, desde ansiedade a dores musculares, a ciência que versa sobre sua eficácia, em pequenas doses, em produtos de consumo imediato, permanece inconclusiva.
A Recess usa 10 miligramas de extrato de cannabis de amplo espectro em cada uma de suas latas de 350ml.
“Na verdade, não está em lugar nenhum”
As demandas por regulamentação de Witte ecoam as dos CEOs de empresas de cannabis, muitos dos quais citam o mercado paralelo como um risco para a indústria, atraindo clientes e minando a credibilidade daqueles que cumprem a legislação vigente.
Quando esses líderes pedem por mais regulamentação, eles pedem por mais clareza – para suas próprias operações, para consumidores e para as empresas com as quais trabalham, como, por exemplo, distribuidores, varejistas e prestadores de serviços financeiros.
Essa causa tem sido um ponto de interesse pessoal e comercial para Witte. Ele faz parte do Conselho da Cannabis, um grupo que, entre outras coisas, ajudou a pressionar a aprovação da Lei de Segurança Bancária pela Câmara dos Deputados dos EUA em setembro. Se promulgado em lei, o projeto proibiria os agentes fiscais de penalizar as instituições financeiras que forneçam serviços bancários a empresas de maconha.
A imprecisão em torno da legalidade da CBD tem afastado uma série de empresas, desde a Coca-Cola até a Pepsi, desse mercado, por enquanto – embora Witte alegue que teve conversas com a maioria das principais companhias no setor de bebidas, e que todas estão interessadas em uma parceria, assim que a falta de regulamentação for corrigida.
“O que eu gosto de dizer é que parece que a CBD está em todo lugar, mas na verdade não está em lugar nenhum, porque ainda não está entre os varejistas nacionais”, disse Witte.
Mas o sinal amarelo jurídico para a CBD até o presente momento também deu à Recess um espaço para crescer antes que a oportunidade surja em maior escala.
“Na verdade, é por causa da incerteza regulatória que nenhum dos grandões – Pepsi, Coca Cola, Nestlé – quer entrar nesse mercado agora”, disse Witte. “Isso nos deu um certo espaço para construir nossa marca.”