West Hollywood, Califórnia – A comida do primeiro restaurante de maconha de West Hollywood, o Lowell Farms: A Cannabis Cafe, na verdade não vem com infusão de maconha.
Há nachos veganos e corn dogs sofisticados, batatas fritas e hambúrgueres Angus, e couve-de-bruxelas crocante, além de couve e saladas para aqueles com paladares mais virtuosos quando estão chapados.
O restaurante, que abriu em primeiro de outubro e lota todos os dias desde então, faz parte do esforço de West Hollywood para tornar a cidade uma espécie de destino da cannabis dentro do Condado de Los Angeles. No início deste ano, os eleitores aprovaram uma tributação extra sobre as empresas de cannabis. West Hollywood estima que esse tipo de turismo traga de 5 milhões a 7 milhões de dólares em receitas fiscais anualmente.
“E essa é uma estimativa conservadora”, disse John Leonard, oficialmente conhecido como o czar da maconha de West Hollywood, mas cuja ocupação oficial é gerente de assuntos legislativos e comunitários. “Achamos que isso vai gerar mais diárias de hotel aqui, vai trazer mais pessoas para a cidade, e elas vão visitar nossos restaurantes e bares e patrocinar nossos outros negócios.”
Em outras palavras, o Lowell Farms é apenas o primeiro estabelecimento para consumo de cannabis. Outros estão sendo construídos: o Aeon Botanika, onde se pode experimentar acupuntura e terapia nutricional aprimoradas com cannabis, e o Budberry, que servirá comestíveis com infusão de cannabis, que os clientes poderão degustar em um jardim com um lago de carpas.
Há vasos de plantas vistosos e ventiladores girando lentamente no teto do Lowell Farms, que é dividido entre uma sala aconchegante e um grande pátio sombreado. Um bar circular no centro do espaço serve café. Há sucos com gengibre e açafrão; álcool não é permitido.
Uma equipe anota os pedidos, enquanto “hosts de flores” – uma espécie de sommelier de maconha – distribuem grandes listas de opções de cannabis. (“Como você quer se medicar?”, perguntou um deles alegremente.)
No menu de cannabis há cigarros eletrônicos com “óleo de cannabis prensado a frio” (US$ 60), maconha solta, bongs para alugar e baseados pré-enrolados, incluindo as opções Kushberry Cheesecake (US$ 20, “revigorante, ativo”) e Kosher Dog (US$ 27, “calmante, ativador do humor”), que vêm com um filtro minúsculo. A fumaça inebriante enche o ar, mesmo com o sistema de ventilação de última geração que foi divulgado.
E o mais importante: o logotipo do Lowell Farms – um contorno de uma cabeça de bode chifrudo – foi instalado com uma iluminação neon para a foto ideal no Instagram.
A cannabis parece ter substituído a tequila como preferência das celebridades. Pessoas famosas, incluindo Joe Montana, Jay-Z e John Boehner, o ex-presidente da Câmara, investiram nela.
Alguns notáveis connoisseurs de longa data, como Snoop Dogg e Willie Nelson, há anos têm suas próprias marcas.
O Lowell Farms também anunciou recentemente seus investidores famosos: Chris Rock, Miley Cyrus, Mark Ronson e Sarah Silverman.
É fácil ver por que a indústria tem um brilho particular.
Empresas como a Med Men, que administra dispensários, tentam mostrar a Califórnia como uma espécie de utopia pós-proibição, com um toque de Vale do Silício.
“Um produto que levou as pessoas ao mercado negro está agora criando um novo mercado global”, afirma uma propaganda da Med Men lançada no início deste ano, dirigida por Spike Jonze. “Eis o novo normal.”
No ano passado, de acordo com a BDS Analytics, a Califórnia fez 2,51 bilhões de dólares em vendas legais de cannabis de uso adulto – de longe, a maior do país. Isso ultrapassou o Colorado, onde a marijuana recreacional é legal há pouco de mais de cinco anos, em 60%.
Claro, há complicações. Como o “The New York Times” relatou, os vendedores legais da erva lutam para coibir o mercado ilegal, o que significa que a arrecadação de impostos prometida ainda não chegou aos cofres públicos.
E, como os regulamentos estaduais e locais de cannabis nem sempre se encaixam exatamente, o Lowell Farms é, por enquanto, separado em duas empresas que operam no mesmo local: uma delas é um dispensário e a outra, um restaurante. (Por isso a separação entre os garçons e os distribuidores de “flores”.)
Para a Lowell Herb Co., o negócio de maconha de rápido crescimento por trás dos dois estabelecimentos, este é o ato final de branding. “Você vai ter essa primeira experiência”, disse David Elias, diretor executivo da Lowell. “E você a terá em nosso café, com nossa marca, nosso produto.”
Os incentivadores da indústria dizem que um mercado forte e legal da erva pode ajudar a corrigir décadas de policiamento desproporcional nas comunidades negras e latinas, especialmente empregando as pessoas que foram prejudicadas por leis contra a maconha. Mas os especialistas dizem que ainda não se sabe quem vai realmente lucrar com a situação.
Ruben Honig, diretor executivo da United Cannabis Business Association, um grupo de comércio de cannabis da Califórnia, disse que iniciar esse tipo de negócio é demorado e caro.
“Em West Hollywood, os candidatos pagaram centenas de milhares de dólares para fazer parte do setor. E há grandes empresas em todo o mundo que pagariam muito dinheiro por essas licenças”, disse Honig.
Do ponto de vista de algumas autoridades, o alto custo afasta atores ruins, que poderiam se sentir tentados a dar um jeitinho no que é um terreno legal complexo e ainda em desenvolvimento. Por outro lado, é uma enorme barreira para os aspirantes a empreendedor que podem não ter acesso a investimentos externos ou a outras fontes mais tradicionais de financiamento.
“Se, daqui a um ano, negros e latinos, que foram desproporcionalmente afetados por nossas políticas draconianas contra a droga, não forem os beneficiários desse novo mercado, então não estamos sendo fiéis ao que deveríamos realizar”, disse Danielle Jones, advogada supervisora da Stanford Community Law Clinic, que trabalha para ajudar ex-presidiários a limpar a ficha. “Tenho mais perguntas que respostas sobre isso, mas, com o o passar do tempo, isso vai ser nossa melhor evidência.”
A executiva-chefe do Lowell Farms, Andrea Drummer, se interessou por cannabis porque não queria usar opioides para tratar das dores que sentia com o trabalho em restaurantes requintados.
Então, Drummer ajudou a iniciar a Elevation VIP, que hospeda eventos privados de cannabis. Pouco tempo depois, a culinária e a defesa da política de cannabis se tornaram seu emprego em tempo integral.
Ela também passou por um período em que não tinha onde morar.
Por cerca de nove meses – inclusive durante o tempo em que criou um jantar à base de cannabis para a série da Netflix de Chelsea Handler, “Chelsea Does …” –, Drummer dormiu em seu carro. Durante o dia, ela se instalava em um Starbucks.
Para relaxar, contou que visitava o famoso mercado de agricultores em Santa Monica para conversar com os vendedores e provar seus produtos.
Quando desenvolveu o menu (livre de cannabis) “da fazenda à mesa” para o Lowell Farms, onde também é sócia, estava animada para trabalhar com muitos desses mesmos fornecedores de alimentos. “Dar a volta por cima desse jeito foi uma coisa bonita para mim”, disse ela.
Drummer, que é negra, disse que tenta não se concentrar em seu status como pioneira na indústria da cannabis – sem falar no fato de ser uma mulher negra tocando a cozinha de um restaurante famoso, fato ainda incomum na indústria.
“Tento fazer minha parte na prática. E, se você vier ao café e der uma espiada na cozinha, verá equidade social.”
Elias disse que a Lowell Herb Co. tentou recrutar trabalhadores que foram condenados por crimes não violentos relacionados à maconha. A empresa, a certa altura, anunciou em um outdoor perto da Cadeia Central Masculina em Los Angeles, o que, segundo ele, resultou em cerca de cem currículos.
Em busca da expansão, Elias disse que a empresa comprou recentemente uma fazenda perto de Santa Barbara, que havia sido definida como zona de cultivo de maconha. Ele vê o local como um atrativo para os clientes, assim como os vinhedos da região.
“Estamos trabalhando com degustações na fazenda. O que é de tirar o fôlego.”