Descoberto pelo israelense Dr. Mechoulam, nos anos 60, o THC é o mais conhecido dos canabinóides presentes na canábis. O componente também é o principal motivo para que a maioria dos usuários consumam a canábis, já que é responsável pelos efeitos psicoativos e muitos dos efeitos medicinais da planta.
THC X Canábis
Mais comumente consumido em sua forma natural, ou seja, na canábis, a maior parte dos estudos científicos foram realizados com o THC isolado. Essa diferença causa muita falta de informações conclusivas sobre seus efeitos. Enquanto a canábis se encontra amplamente disponível, legal ou ilegalmente, por todo o mundo – sendo também uma das substâncias mais utilizadas por usuários de drogas (perdendo somente para o álcool) – o THC isolado ou suas formas artificiais, como o dronabinol, são raramente utilizados.
O THC sozinho causa efeitos psicoativos mais fortes do que em sua forma natural, devido ao efeito comitiva. Trata-se da interação entre o THC e outras substâncias que interagem com ele, como o CBD, que também se encontram na canábis. O CBD, por exemplo, contrapõe os efeitos psicoativos do THC, amenizando seus efeitos colaterais. Além disso, o CBD também pode aumentar os efeitos medicinais do THC, como é o caso da dor crônica. Estudos demonstram que, apesar do CBD isolado não funcionar como um analgésico, o CBD em conjunto com o THC tem um efeito superior ao THC usado separadamente. Esse tipo de interação também ocorre com uma série de outras substâncias presentes na canábis.
Efeito neuroprotetor
O THC, e não somente o CBD, possui um efeito neuroprotetor, podendo servir no tratamento da epilepsia (inclusive suas formas refratárias), da esclerose múltipla, al de Alzheimer e mal de Parkinson. Porém, ainda faltam estudos conclusivos sobre o tratamento dessas doenças.
O THC parece evitar que neurônios se superexcitem, causando a morte celular e os sintomas da epilepsia, da esclerose múltipla e outras doenças degenerativas. Mais uma vez, muitos dos estudos foram conduzidos com o THC em sua forma isolada. Pacientes medicinais, contudo, têm reportado efeitos positivos da planta no tratamento de suas doenças, como os inúmeros relatos sobre o desaparecimento de grande parte dos sintomas após o uso de extratos de canábis.
Tratamento do câncer
Há centenas de estudos demonstrando o uso do THC no tratamento do câncer. O canabinóide demonstrou ser útil ao induzir apoptose (morte celular programada) de células cancerígenas, diminuir tumores, aliviar a dor neuropática causada pelo câncer, e tratar a náusea induzida pela quimioterapia. Esse último pode significar a diferença entre a vida e a morte, já que muitos pacientes não conseguem comer durante o tratamento e acabam ficando muito fracos para combater a doença.
Até o momento temos apenas um estudo em humanos, com um resultado positivo, utilizando o THC no tratamento de câncer. Como um número pequeno de pacientes foram utilizados, ainda não há evidências conclusivas de que o THC possa tratar o câncer com sucesso.
Doenças psiquiátricas
Há uma série de evidências de que o THC pode tratar problemas psiquiátricos, como a depressão e a ansiedade. Há também evidências de que o canabinóide possa causar tais enfermidades. Porém, não existem estudos conclusivos em ambos os casos, e como tratam-se de doenças muito complexas que podem ter uma série de causas e efeitos diferentes, não podemos afirmar qual é a correlação entre o THC e essas condições.
No entanto, milhares de pessoas com doenças psiquiátricas se automedicam com a erva, apesar da forte oposição de psiquiatras. Pesquisas com pacientes que se automedicam com canábis identificaram um alto número de pessoas utilizando a erva para tratar problemas psiquiátricos; com ou sem acompanhamento médico. Uma pesquisa realizada na Califórnia, em 1999, identificou 660 (26,6%) pacientes automedicando problemas psiquiátricos com canábis. Entre eles, 274 sofriam de stress pós-traumático; 162 de depressão; 73 de ansiedade; 46 de depressão neurótica; 34 de desordem bipolar; 26 de esquizofrenia; 15 de déficit de atenção; 8 de distúrbio obsessivo-compulsivo; 5 de síndrome do pânico; 17 de outras enfermidades.
Essas pessoas parecem ter encontrado algum alívio na erva. É bom lembrar que o uso indiscriminado, contudo, não é recomendado. Pacientes com doenças psiquiátricas devem ser tratados como grupo de risco ao utilizar a erva e sempre procurar acompanhamento médico. Mais uma vez, mais pesquisas são necessárias para determinar os efeitos do THC no cérebro humano.
Referências
The Pot Book – Julie Holland
Canábis and Cannabinoids – Pharmacology, Toxicology and Therapeutic Potencial
Cannabinoids inhibit neurodegeneration in models of multiple sclerosis – Pryce et al
Decreased prevalence of diabetes in marijuana users – Rajavashisth et al
O Uso Medicinal da Canábis – Susan Witte
Marijuana Medical Handbook – Dale Gieringer